terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ensaio: Bi-Centrenário da Imprensa no Brasil

Muitos questionamentos são necessários para que aceitemos o convite de celebrar uma data tão especial: 200 anos de imprensa no Brasil, sem contudo dedicarmos um pouco do nosso tempo para uma reflexão simples: a necessidade humana de se comunicar, os avanços nesta área e como a imprensa brasileira se estruturou। Vamos voltar aos primórdios। O modo de transmitir informações nasce quando o homem sente a necessidade de se comunicar com o outro (pré-história). A invenção da escrita é um grande salto para a comunicação e segue para a invenção do alfabeto. A partir daí o ser humano já começa a desenvolver com mais freqüência a arte de informar, dando início à invenção do papel.

Recuamos para a Idade Média, onde temos como marco principal a invenção dos tipos móveis, a era de Gutenberg, e como principal fato, a impressão da primeira bíblia। O seguinte passo é para a Reforma Protestante, que Martin Lutero foi contra o poder da igreja dominante (Igreja Católica) e imprimiu a bíblia em vários idiomas. Nessa época temos a manipulação de informação por parte da Igreja Católica.

No século 18, com a Revolução Francesa, encontramos vários filósofos que expandiram suas idéias Iluministas através da imprensa। Rousseau, Voltaire, Diderot, D’Alembert são nomes que ainda hoje, em pleno século XXI, são lembrados e referendados pelo povo francês, por suas contribuições por disseminarem idéias sobre o homem livre e a sociedade justa. Ao comemorar o bicentenário, a memória da imprensa brasileira nos aproxima de um contexto histórico bem diferente do cenário europeu da era Iluminista. Aqui as coisas foram estruturadas de um modo bem diferente. Nosso ícone deste fato histórico é o periódico “Gazeta do Rio de Janeiro”, fundado em 10 de setembro de 1808. Reconhecido como marco histórico da Imprensa brasileira este periódico foi organizado pela iniciativa e interesse da corte portuguesa, que ao transferir-se de Portugal, em 1808, percebia a importância de contar com um meio de comunicação que lhe tecesse elogios e colaborasse para afirmação política do governo imperial na colônia.

Desta forma, o pontapé inicial para o surgimento da Imprensa no Brasil foi dado por um monarca, com interesses explícitos em contar a voz de um jornal oficial। No seu funcionamento, é evidente, havia a necessária e prévia censura imperial. Logo, temos de nos perguntar, para quem escrevia o Gazeta do Rio de Janeiro em seus primórdios? Para o povo, escravo, ou pobre, certamente não era. Agora vamos “filosofar” sobre o Brasil que, enquanto os países europeus estavam no auge da transformação intelectual, o Brasil estava no auge da escravidão, onde os poderosos detinham o poder da informação e da educação. Após esse domínio, nos deslocamos para a era da Ditadura Militar, onde os meios de comunicação era totalmente dominado pelo militarismo, sem nenhuma chance para a liberdade de expressão formar a opinião pública.

Dentro dessa comparação que podemos traçar entre os países e suas políticas, verificamos que não é à toa que o analfabetismo brasileiro ainda é um dos mais expressivos e a formação cultural das pessoas é desumanamente desigual। A repressão intelectual durante esses 200 anos fez com que o Brasil se tornasse um país subdesenvolvido com uma qualidade de ensino muito baixa em vista de outros países até menores que o Brasil। Agora podemos concluir com a seguinte questão: se o Brasil viveu os últimos 400 anos comandado por uma elite econômica e os últimos 100 anos pela ditadura militar, não podemos comemorar 200 anos de imprensa nacional sem levar em conta essa memória, de contradições e o seu gosto um tanto amargo, por ter nascido do interesses outros que não o legítimo anseio de uma sociedade livre e soberana.